terça-feira, setembro 17, 2013

Um café e um pastel.



 Hoje tomei um café num estabelecimento com uma larga porta de vidro para o exterior. A porta funcionava como ecrã.

Movimentos vários, de pessoas, coisas, carros, parados e a andar, obedecendo a sinais, uns virados para mim, espectador, outros de um lado para o outro a jogar ao agarra e foge com figurantes indeterminados do filme.
Cena banal de sucessão de planos à velocidade real dos olhos. Imaginável, no entanto, como fracções de cenas, ensaios de tomadas de vista, músicas, passos de dança, pinceladas, metáforas várias.
Pensava. Há quanto tempo se emociona o homem com a realidade para poder transformá-la em expressão de outra coisa?
Quantos anos após anos, eras após eras se desenrolaram para poder beberricar hoje um café intelectual e saborear o creme de um pastel folhado de imbricações estéticas?  
Houve, há e haverá movimento? Dá jeito para imaginar a memória em marcha. Mas superação e integração do real no presente se acolhem. É a isso que chamam progresso? A realidade é o permanente resultado de um sopro criativo, aqui e agora. Quem sopra? Seja quem for, atrás da realidade se esconde.

E pronto, meu estado de alma, um café e um pastel.






Um comentário:

Pedro Piel disse...

Meu caro!
Quis fazer-te companhia e, assim, enfiei-me, através daquele ecrã mágico* a servir de entrada, nessas paragens indefiníveis, onde te encontras e me acenas lá de cima de um andaime com vistas para os limbos, esperneando num acto de equilibrismo artístico. Mas eu, que tanto queria assistir a essa cena da realidade transformada em expressão diferente, não consigo apanhar-te; não possuo a agilidade para me agarrar ao teu virtuosismo. E, assim, dou este trambulhão lá para baixo.

* ou era um espelho como aquele traspassado pelo o Orfeu num filme do Cocteau?