sexta-feira, dezembro 02, 2011

Compreender - Aceitar - Respeitar

O ensino, do menor grau ao maior, treina-nos para encontrar igualdades e para as situar numa qualquer formalidade que se arruma nas prateleiras dos saberes. Para o entendimento, as diferenças são disformes, por isso incómodas,  enquanto não se deixarem agarrar pela teia da igualdade. 
À volta das igualdades organizam-se os saberes; à volta da diferença atraem-se e/ou repelem-se as emoções que ostentam ou disfarçam as debilidades próprias à boleia das decisões racionais e quase sempre como parentes pobres delas. A razão dá-se mal com diferença e com as emoções a ela associadas. O saber ilude este mal-estar e proclama vencido que cada caso é um caso. E cada caso impõe que o respeitem como tal – um mundo embrulhado de emoções. A contrapartida ética deste respeito exigido é o respeito devido às diferenças emocionais dos outros.
Em resumo, entender custa muito pouco porque a ciência basta e às vezes sobra. Mas o respeito torna-se um pouco mais difícil porque apela muitas vezes ao conflito inevitável de emoções diferentes e muito mais difícil ainda é aceitar, porque joga com a periclitante solidez da legítima solidão das emoções próprias: eu, irredutível ao outro, se aceito essa condição, envolvo-me com o que não sou e se do outro espero uma dádiva, contrario a própria irredutibilidade.
Acho, para acabar, que compreender é fácil; aceitar, é já incómodo; respeitar aproxima-se do heroico, porque é aceitar a subversão de si mesmo para que outro seja. Contudo, é na subversão de si próprio que o amor acontece.